Janilton Gabriel de Souza*
Outro dia pensava que se inventassem de fato uma “máquina do tempo”, que permitisse voltar no passado, essa seria vendida como água ou seu serviço estaria como o mais solicitado. Pois, quem nunca se pegou desejando retornar em algumas situações seja para revivê-las e/ou modificá-las? Sempre ouço no consultório pacientes se queixarem: “ah… se pudesse voltar lá trás, com a cabeça que tenho hoje, faria tudo diferente…”; Com certeza, essa frase é muito ouvida mesmo fora do divã e, a propósito, quem nunca a disse?
Esse desejo de retorno é traduzido em diversos filmes em que se é possível fazer essa viagem no tempo. Um deles que gosto muito é o “Efeito Borboleta”, nele o personagem principal tem um diário misterioso que permite voltar em certas cenas de sua vida através de fotos ou das anotações. Como seu desejo é fazer as coisas de um modo diferente, cada vez que retorna modifica algo, mudança que repercute no futuro, assim ele transforma o passado e, consequentemente, o futuro. Vejo que muitos gostariam de também poder fazer isso, principalmente, por que sabendo hoje os resultados e consequências de ações passadas, consertar os erros cometidos lá trás, como dizem: “se tivesse a cabeça que tenho hoje naquela época…”. O contraditório é que só é possível pensar como agora, porque se viveu determinadas experiências no passado. Na psicanálise sempre dizemos que só podemos saber se bem ou se mal depois, a posteriori, infelizmente só com o passar do tempo que conseguirmos avaliar os caminhos que trilhamos.
Entretanto, concordo que nos beneficiaríamos de uma volta ao passado, particularmente, acredito que aproveitaria e muito da minha versão velha no corpo mais jovem: seria presente em momentos que marquei só pela ausência, ausente em outros que tivera sido constante demais, compraria algumas brigas e fugiria de outras, valorizaria mais algumas coisas, terminaria relações que se arrastaram e não deixaria jamais perder as que realmente fizeram diferença. Lembro do programa “Você decide” da Rede Globo em que era apresentada uma história que o final era escolhido pelos telespectadores, o apresentador sempre lançava o jargão: você escolhe o final, você decide… Ao termino do último bloco era apurada a enquete, que revelava o que a maioria escolhera. Esse programa nos dá uma clara dimensão do que os psicanalistas entendem: somos sempre responsáveis pelo o que escolhemos, consciente ou inconscientemente. É certo que, muitas vezes, esquecemos das circunstancias que nos levaram àquela decisão, acontece que na oportunidade pode ter sido a melhor escolha diante da visão que dispúnhamos. Todavia, é fato que, a sensação nostálgica permanece, porque o presente é sempre diferente do ideal, que um dia sonhamos, apesar disso é também o que nos resta. Então, cabe inventarmos um jeito de vivermos o presente e não nos aprisionarmos nas lembranças, passadas.
*Psicólogo clínico atuante a partir da psicanálise, educador e pesquisador da UFSJ. Colaborador do Jornal Folha de Varginha e Blog do Madeira.
Texto originalmente publicado no Jornal Folha de Varginha e também disponível em:
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