Janilton Gabriel de Souza*
Ao passear pelas redes sociais, analisar seu conteúdo e mesmo os e-mails que se recebe diariamente é perceber que na maioria das mensagens há um clamor pela felicidade. Esta carreada de uma noção de plenitude: “para ser plenamente feliz, você precisa…”.
Neste campo de promessas e receitas, os livros do gênero autoajuda para muitos parecem uma resposta. Mas, ao se tomar a palavra “autoajuda” e seu significado, navega-se em alguns paradoxos que carecem de uma analise mais pormenorizada. O dicionário Houaiss define o termo, como: “prática que consiste em fazer uso dos próprios recursos mentais e morais para alcançar objetivos de ordem prática ou resolver dificuldades de âmbito psicológico”. Ao analisar tal definição já pode se dar com uma grande discrepância. Trata-se de utilizar recursos mentais e morais seus, parece contraditório tentar extraí-los de outra pessoa, no caso de um autor de livro deste tipo. Parece mesmo um receituário impresso em grande escala e com a proposta de atingir a todos.
Interessante que o imperativo “seja feliz” se confunde com o “seja alegre” nas redes sociais, especialmente, no Facebook vê-se pessoas postarem sempre fotos sorrindo, com a imagem de felizes, “uma verdadeira sucessão de dias belos”. Eis a felicidade do comercial de margarina (que mostra sempre pessoas felizes) refletido nas redes sociais, diria até em nossa concepção de “sair em uma foto”. Fato é que, a concepção de sustentar uma máscara de felicidade não veio com o Facebook, apenas herdaram uma tradição.
A felicidade não é um bem que se mereça, como diz o psicanalista Jorge Forbes. Todos vivem a procura de uma felicidade, ou uma satisfação plena, o pai da psicanálise Sigmund Freud já advertia que a felicidade só acontece em determinados momentos, até mesmo por uma questão de estrutura psíquica não é possível ao humano se satisfazer a todo instante. Porém, ao contrário dela, o sofrimento é mais fácil de ser experimentado de maneira contínua, o poeta Vinicius de Moraes muito bem cantava nesse sentido: “Tristeza não tem fim/Felicidade sim!”. Deste modo, encontrar o que nos satisfaz é um caminhar singular, uma aposta solitária, como lindamente Freud descreve em seu texto Mal-estar na Civilização: “Não existe uma regra de ouro que se aplique a todos: todo homem tem de descobrir por si mesmo de que modo específico ele pode ser salvo” (pode viver momentos felizes).
*Psicólogo clínico atuante a partir da psicanálise, educador e pesquisador da UFSJ. Colaborador do Jornal Folha de Varginha e Blog do Madeira.
Texto originalmente publicado no Jornal Folha de Varginha e inédito na internet.
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