Por Suzane Maritan*
A 4ª edição do Projeto “Psicanálise em Diálogo” aconteceu no sábado, dia 7 de abril de 2018, das 9 horas às 12 horas, no Auditório do Centro Universitário do Sul de Minas (UNIS-MG- Campus 1), localizado em Varginha. O tema tratado, com clareza, pela convidada Psicanalista Luciana de Rezende Teixeira foi: O Narcisismo na Constituição do Sujeito – Espelho, espelho meu, quem é mais bela do que eu?
A abertura do evento foi realizada pelo membro do grupo Interfaces (Núcleo de Pesquisas e Estudos em Psicanálise), Michael Lopes, que expôs um breve histórico das edições anteriores do Projeto “Psicanálise em Diálogo”. Posteriormente, houve a apresentação da artista Katiuscia, que abrilhantou o espaço, com uma belíssima dança, reforçando o elo da Psicanálise com a Arte, na perspectiva de uma invenção. Por último, Michael fez um paralelo da Arte com o mito do Narciso, preparando o campo para o início da fala da conferencista convidada.
A conferência ocorreu em três tempos. No primeiro, a Psicanalista Luciana compartilhou com a comunidade um belíssimo texto, na qual articulou a questão do Narcisismo com as experiências clínicas, músicas e com a literatura. Em suas colocações, surgiram os seguintes apontamentos: “ A psicanálise teria um efeito estético”; “Um desejo só existe se eu consigo fazê-lo passar ao mundo”. Essas questões ressoaram em todos os presentes que puderam, em outro momento, fazer suas perguntas. A palestra foi finalizada com a música de Eric Clapton: “Wonderful Tonight”.
Em um segundo tempo, os participantes foram convidados para um delicioso café mineiro. No terceiro, as perguntas dos ouvintes se iniciaram com o Psicanalista Sílvio Memento, que retomou a parte que Luciana, usando como referência o autor Lacan, falou sobre algo do corpo que não é captável pela imagem, ou seja, não é assimilável pelo eu, chamado de objeto pequeno a. Frente a esse objeto que resta, Sílvio indagou a possível relação da angústia com essa tentativa de fazer equivaler o eu e a imagem. Na argumentação, Luciana fez uma analogia com o estranhamento presente na esquizofrenia, paranoia e autismo, bem como discorreu sobre a atualidade do culto à imagem, nas redes sociais, que pode trazer sofrimento para as pessoas, quando não recebem as esperadas “curtidas” nas fotos. Nesse contexto, o sujeito que sofre, ao buscar uma análise, entrará em contato com uma prática que atua na contramão dessa supervalorização da imagem do eu, visto que é um engodo. Por conseguinte, a resposta do espelho é a mesma do analista: ele nunca responde a demanda.
O evento também contou com uma articulação realizada pelo Psicanalista Janilton Gabriel de Souza, coordenador do grupo Interfaces, que trouxe a questão da vergonha e culpa na atualidade. Para enriquecer a discussão, Janilton convidou a dançarina Katiuscia para falar sobre o seu processo de criação da coreografia apresentada. Na qual, ela gravou a música com trechos de textos sobre o mito do Narciso e através da dança contemporânea, exibiu passos que fazem alusão à estética e ao belo.
Por fim, a Psicanalista Luciana, na reflexão sobre os apontamentos iniciais, ressaltou que uma Psicanálise pode ter um efeito estético, na vertente do resgate do investimento libidinal do eu, daqueles clientes que buscam a análise, em processo de sofrimento e menos valia perante a sociedade. Porém, corroborando com a afirmativa de que: “Um desejo só existe se eu consigo fazê-lo passar ao mundo”, temos que chegar no Narcisismo e atravessá-lo, pois, ficar preso na imagem é mortífero. Como diz Lacan: “Ir além do pai, com a condição de saber servir-se dele”. Assim, tornam-se imprescindíveis essas oportunidades de trocas proporcionadas pelo evento aqui relatado, para podermos perguntar para o espelho: “Em que nos parecemos? ” Afinal, o Narcisismo é estrutural do sujeito, mas, é preciso um movimento de criação, de sustentar o estranho ao grupo!
(*) Suzane Maritan
Comissão organizadora do 4º Psicanálise em Diálogo. Membro do Interfaces (Núcleo de Pesquisas e Estudos em Psicanálise), onde participa dos estudos e da frente de pesquisa nos seguintes temas: Clínica da Infância e Adolescência, Sexualidade, Saúde Mental. É graduada em Psicologia pela Universidade José do Rosário Vellano (UNIFENAS). Especialista em Teoria e Clínica Psicanalítica na UNIFENAS.
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