Antonio Quinet
(Psicanalista)
“O encontro entre dois seres sexuais que falam é da ordem do “acaso”, não se programa, ele acontece. É o que Aristóteles chama de a causa acidental, a tyché que pode ser eutiquia um bom encontro ou distiquia um mau encontro. Se é um mau encontro seguramente não haverá laço e e se for um bom encontro nada garante que o fará. O bom encontro promete muito, ele promete o laço mais nem sempre cumpre. As falas de amor durante o encontro sexual, as promessas são vãs. No dia seguinte o telefonema não vem. O laço do encontro se rompeu e a saudade ficou. A recordação do gozo do encontro exige repetição e pede mais e mais. Mas a repetição não é laço, é a repetição do um do gozo, a repetição do Um sozinho que comemora a irrupção do gozo. Um S1 que se repete. O encontro é da ordem do Um do gozo e é sempre exigência de repetição desse gozo… que não deve ser confundido com o amor. Mas é claro que esse gozo do Um pode ser o catalizador do laço do Dois do amor. E virar o encontro para a vida toda. Mas não é a regra. Aliás não há regra nenhuma no amor ou no sexo. É tudo desregrado. Pois a exigência da repetição do Um do gozo não está predestinado ao laço do Dois do amor. Não há discurso estabelecido e estável do laço amoroso. O amor é louco – está fora do discurso como laço social dentre os que estruturam nossa civilização. O amor é incivilizável, ele prega a desobediência civil. Não há discurso totalizante sobre o amor. Temos apenas fragmentos de um discurso amoroso, como escreveu Roland Barthes.
O gozo sexual de um encontro é efêmero e seu destino é imprevisível. É só aquilo. Em outro caso abala o laço matrimonial de anos de uma relação estável e causa a ruptura – o desenlace. Você se desenlaça de um parceiro porque foi enlaçado por outro. O que é separar-se? Cada separação tem sua história. Não há resposta generalizável para o que faz o desenlace amoroso. Um corte, a corda roeu, o nó afrouxou, o laço se desfez. A vida é feita de enlaces e desenlaces e quando um laço se rompe, o sujeito grita liberdade e corre para se enlaçar com outro parceiro. Ou se o laço era coleira, o bicho se solta e toma a metonímia do trem do desejo para parar de estação em estação sem lenço nem documento, nada no bolso ou nas mãos, pulando de encontro em encontro. Sua companhia é apenas um celular repleto de aplicativos de busca nas redondezas para um sexo rápido. Antigamente dizia-se que isso é próprio dos homens, mas hoje em dia essa prática também é partilhada por mulheres que só querem ficantes… até serem enlaçadas pelo amor.
Mas há um irrecusável do gozo que quando se experimenta, tudo o que se mais se deseja é repeti-lo… independente do laço, correndo o risco de provocar desenlaces. O objeto a, causa do desejo, um olhar, uma voz enlaça, cativa, encanta mas ele enquanto tal não faz laço, pois é avesso ao casamento. A causa do desejo é solteira, o amor é casado.”
Trecho da conferência “Enlaces e desenlaces da vida sexual” , apresentada em Curitiba dia 13/3/2015, pelo autor.
Obrigado por compartilhar! Eu amo seu post obrigado.