Por Janilton Gabriel de Souza
O dia foi intenso de muito trabalho e investimentos. Foram horas de consultório, algumas visitas em escolas e intervalo de leituras. Tudo isso com muito entusiamo. A alegria completou-se agora a noite ao ser informado pela comissão organizadora do 4º Psicanálise em Diálogo (Jéssica Marangão, Jéssica Silva, Sérgio Pereira, Tamara Entresportes, Estefânia, Suzane Maritan e Michel Lopes) de que esgotamos nossas vagas para essa edição, nessa quinta-feira, ao final da tarde.
Serão mais de 100 pessoas que participarão dessa edição. Um formato criado por nós, para levar a Psicanálise a dialogar com a comunidade. Cada edição crescemos um pouco mais, sempre com o cuidado e zelo por esse projeto tão caro. Sentimos como pais zelosos, que a cada fase concerne a sua cria mais liberdade (fomos aumentando o número de vagas aos poucos) e responsabilidade, tanto de nossa parte no sentido de organizarmos, quanto daqueles que participam.
Esse psicanalista que vos fala iniciou em 2016 com o 1º Psicanálise em Diálogo, que à época foi ministrado por meu querido amigo, professor e psicanalista Sílvio Memento Machado. Ele foi incumbido a tarefa de inaugurar um espaço e, uma invenção, que se mostrou profícua ao longo do tempo. Meu afeto e carinho ao Sílvio, que não só inaugurou esse espaço, mas como da própria teoria psicanalítica em meu percurso.
Por falar em afetos, no parágrafo anterior disse que iniciei. De certa forma tem essa natureza, afinal meu carinho com aqueles que estudávamos fez-me dedicar, com a ajuda de Jéssica Maciel (grande companheira), Otávio e Asheley, a essa criação e experimento a cada um deles, como um presente de gratidão por todas as trocas que estabelecemos até ali (naquela semana completaríamos 1 ano de Estudos sobre o Mal-Estar na Civilização).
As edições que foram seguindo, o singular transformou-se em um plural. Passamos a engajar àqueles que participam conosco cada vez mais no projeto, assim como a própria comunidade, que pode perceber a seriedade do nosso fazer e o nosso comprometimento com a causa em nome daquilo que tão profundamente fomos tocados na pele, a Psicanálise.
Desde o começo a proposta do projeto foi trazer a comunidade para mais perto da Psicanálise e, o contrário talvez seja mais verdadeiro, a Psicanálise para mais próximo das pessoas. Além disso, também, partia de uma aposta deste psicanalista em criar um dispositivo de circulação de saber para os próprios participantes e membros do Interfaces , auxiliando-os a escutar psicanalistas de diversos lugares e filiações. Apesar das divergências no meio psicanalítico, há muitas convergências e podemos somar com esse exercício um despertar do olhar crítico, necessário para qualquer um que se lança ao longo do percurso de tornar-se psicanalista. Nessa criticidade talvez resida a finalidade de um tratamento psicanalítico, levar o sujeito a se desalienar, como nos lembra Jacques Lacan.
Nosso dispositivo de circulação da palavra é atravessado pela Psicanálise de ponta a ponta. De nossa parte, como descrevi, a responsabilidade de só aceitar aquilo que nos era possível em cada momento, assim como talvez aconteça com a nossa escuta ao longo do exercício clínico, o de ir acolhendo mais algumas pessoas a cada avanço nosso. Por outro lado, a responsabilização daquele que participa, afinal quem não se implica por sua presença no evento é impedido acesso na edição seguinte. O Psicanálise em Diálogo é e sempre será gratuito e aberto a todos que se interessam por esse conversa, entretanto o preço deve ser pago com a inscrição da palavra em ato, ou seja, com a presença.
Essa invenção, que já vem ganhando reinvenções graças a pluralidade e engajamento dos membros do Interface me faz perceber o quanto todo esse investimento (mais uma vez) tem a ver com a Psicanálise, pois trata-se de um ato de amor, que sabemos através da experiência como pacientes, acima de tudo, o quanto ela pode ser radicalmente transformadora. A todos desejos por mais essa edição sejam todos bem-vindos, desde já, sintam-se todos acolhidos por cada um dessa organização, que assim como esse psicanalista foram tocados por amor vívido e circulante em torno da Psicanálise. Um amor, que como nos lembra o psicanalista Jacques Lacan “amar é dar o que não se tem (para alguém que não quer isso)” (O Seminário, livro 12), em resumo damos nossa falta. Enquanto houver falta, estaremos dispostos a reinventar nossa prática e até a nossa própria vida.
Sem Comentários