Há pessoas, que são suficientemente marcantes em nossa caminhada. Algumas delas, são gentis com as palavras, essa gentileza nos transforma e nos ajuda a superar momentos íngremes. Hoje, o quadro NO DIVÃ destaca não uma frase, mas versos belos e encantadores do psicanalista e professor da UFSJ, Wilson Camilo Chaves. Figura essa, que o autor deste site teve a honra de conviver durante três anos, pois foi ele quem me orientou em minha dissertação de mestrado.
Camilo, a você meu carinho e agradecimento. Compartilho seu texto para que nossos leitores possam ao menos tocar na leveza e na pessoa que tu és.
O que procuras?
Da vida, o que se leva?
Leva, a vida?
A vida é levada?
Levada, criança.
Arte, arteira, bobagem.
Tempo que passa, passou.
Passo.
Posso?
Dê licença?
Tô entrando.
Não tem lugar?
Como assim?
Vejo Buda a comtemplar,
quanta paz,
na postura,
no olhar,
aparência singela,
compenetrada,
bem singular.
Uma mão sobre
as pernas e
a outra
rente ao peito
em direção
ao alto,
momento de meditar.
Quisera ser como Buda,
quanta serenidade,
leveza no olhar!
Quisera ser calmo,
os problemas a solucionar.
Mas estourado como só,
falta paciência,
sobra ansiedade,
coisa tal vulgar.
Quisera ser pássaro,
mundo todo a visitar.
sobrevoar mares,
montanhas, pântanos
liberdade a admirar.
Encarnado como
homem, não pássaro,
nem iluminado como Buda,
o que posso esperar?
Condição de sujeito,
linguagem entrepõe,
media e nos coloca
nesse lugar
de sonhar, querer ser isso
ou aquilo, esse ou aquele,
bicho ou pássaro.
Jeito complexo de dizer
que se não se tem tanta liberdade,
se não se é iluminado,
és homem comum,
mortal, imortalizado
ao escrever, falar,
fala de si, do Outro,
de forma ímpar,
como não há!
De todos da natureza,
fez cultura e se distanciou
do modo de aprender,
de amar, ao falar.
viaja, sobrevoa,
medita, contempla,
irrita, erra,
acerta, perdoa,
ou não.
O barco a remar
ganha ares de sofisticação,
és, a final de conta,
naõ o rei,
nem o filho privilegiado
da criação.
Pensar, imaginar,
criar mundos,
fundar reinos,
indagar sobre
as existências,
ainda que não se
saiba bem seu lugar
nesse labirinto a
percorrer sem se esconder
do que se é, foi, será.
Sem Comentários