Janilton Gabriel de Souza
Psicólogo e Psicanalista. Mestre em Psicologia pela UFSJ. Professor Universitário do Grupo Unis – Graduação em Psicologia, onde também é supervisor clínico. Membro fundador do Interfaces em Psicanálise – Núcleo de Pesquisas e Estudos. Colabora com o Instituto Internacional de Psicanálise (IIP). Mantém seminários da obra freudiana e lacaniana, trabalhando atualmente com os últimos seminários de Lacan e com a topologia. Trabalha em seu consultório de forma presencial e online.
Que o mundo já não é mais o mesmo, isso é um algo indiscutível. Mudou e a tecnologia facilitou muito do que fazíamos e criando, ainda, novas formas de encontro. A ideia que a tecnologia é só má, remete a nostalgia, romanceada, de um tempo que tenho minhas dúvidas, que sempre foi tão bom quanto costumamos contar. Também, a ilusão de que o novo é sempre bom, disruptivo, cai por terra a medida em que o tempo avança, pois a categoria “novo” não é sinônimo de avanços, pode ser de retrocessos tanto quanto a nostalgia de um paraíso perdido. A dificuldade de leitura é que as pessoas foram acostumadas a uma lógica categórica, de bivalência, ou seja, bem ou mal. Acontece que há uma lógica na coabitação dos espaços, explico.
Para mim, a tecnologia resolveu uma questão de fronteiras e graças a internet trabalho com colegas psicanalistas do outro lado do Oceano, na França. Também, permitiu acesso a tudo que mais desejava, como livros, filmes e música em uma única tela, como o tablet. Isso fez repensar a noção de espaço e tempo, pois antes para armazenar tudo isso era necessário um espaço físico grande e hoje está a um clique na tela. As trocas de informações por aplicativos, como WhatsApp, possibilitaram o encontro de várias maneiras. As redes sociais conectaram pessoas de vários lugares, fazendo nascer parcerias, amizades e até relacionamentos amorosos.
Redes como Tinder, revolucionou o encontro, ao mudar deu algoritmo para dar voz as mulheres, que muitas vezes evitavam fazer parte dessas redes, por sofrerem com cantadas ou violências de homens, que ela não havia dado a oportunidade ou demonstrado seu interesse. Hoje, não é assim, a “conversa” só pode ocorrer a partir com “meet” da mulher, ou seja, se o homem se interessou e clicou, mas ela não, ele não consegue acesso ao bate papo com ela. Isso, porque percebeu-se que os homens dava seu “like” em várias mulheres, apostando na quantidade e já as mulheres preferiam selecionar aqueles que de fato poderia haver uma correspondência para um relacionamento. Algumas décadas de redes sociais, já podemos dizer, muitos casais se formaram a partir dessas ferramentas tecnológicas, seja para uma relação duradoura ou mesmo para os encontros esporádicos, em que graças a essas ferramentas foi e é possível combinar um encontro, de acordo, com o seu desejo.
Os elementos acima elencam uma perspectiva, todavia há outra relação, que tem sido nefasta, que toca no polo dos excessos, dessas relações. As pessoas passam a maior parte de seu tempo conectadas, especialmente, as redes sociais. Esse aumento foi exponencial nos últimos três anos, perfazendo uma média diária de 3 horas e meia no Brasil, assim como muitos países. Isso tem trazido problemas, o primeiro é da dependência dessas redes.
Este mundo, quatro ponto zero, como alguns dizem, é composto por múltiplas possibilidades, mas o sofrimento decorre da dificuldade do sujeito de decidir, o que fazer, com quem relacionar-se, se quer relacionar. Antes, o sofrimento maior estava na restrição de possibilidades, sendo muitas proibidas. A dificuldade contemporânea guarda semelhança com o passado, o extremismo. Antes, era um retremo de restrições, que faziam o sujeito desejar mais do que poderia realizar e, hoje, há mais opções que ele consiga saber. Em ambos os casos, entra em jogo, a relação do sujeito com a própria falta. No primeiro mundo, faltavam objetos possível de desejo, agora escolher é apontar um entre tantos, fazer uma escolha é perder as outras opções.
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