Janilton Gabriel de Souza*
Provavelmente você deve estar imaginando que neste artigo irei tratar sobre a cocaína, maconha ou crack. Não que estas drogas ilícitas não façam mal àqueles que a consomem, com certeza, há uma série de efeitos maléficos e dada à importância merece ser tratado à parte. Se não são dessas drogas, a pergunta, que você se faz agora, mas de que droga este psicólogo quer falar? Talvez a resposta demore ser elaborada, porque nunca pensamos nela como droga, muito menos no seu malefício, assim é sobre o uso indiscriminado de remédios prescritos os quais pretendo tratar nesta coluna.
Muitos nesse momento já estão questionando porque seriam estes remédios (antidepressivos, ansiolíticos…) um mal? Uma vez que, muitas pessoas que fazem uso deles se sentem bem? As drogas como maconha e outras do gênero também geram uma sensação de satisfação, mas parece ser demasiadamente falado os efeitos delas na vida dos que se tornaram dependentes. Aqui existem dois pontos convergentes da droga e dos remédios: ambas cumprem esse papel de proporcionar a sensação de prazer e, muitas vezes, a consequência disso é tornar seus usuários dependentes de seus efeitos. Visto desta forma, parece que as drogas ilícitas e as drogas prescritas como remédio não divergem em nada, pois acabam por cumprir a mesma função.
Todavia, o que torna crucial para o “remédio da alegria”, por exemplo, ser a pior droga contemporânea é a ideologia por detrás dela: a de que as pessoas precisam ser felizes, sempre. Como se os sujeitos fossem as fotos de porta-retratos ou dos álbuns das redes sociais, que parecem sempre vigorar pessoas sorrindo, felizes, uma sucessão de dias belos. Uma série de imagens que corporificam a noção de felicidade em constância, como se aos sujeitos fossem possível estar em um estado pleno de satisfação, sabe-se, que a satisfação é sempre incompleta, parcial. Citei em artigo anterior que após o surgimento dos antidepressivos, o número de pessoas diagnosticadas com a depressão aumentou assustadoramente, será que passaram a existir tão mais pessoas com depressão ou para a tristeza/angustia “inventaram” um remédio para nos vender?
Se para a tristeza e ou angustia passou a existir remédio, logo se descobre o seu grande uso. Afinal a angustia é inerente a nossa condição de sujeito, ou seja, qualquer processo de perda ou luto gera, naturalmente, um estado de tristeza. Ao ser considerada como uma doença corrobora com o discurso de quem busca solução sem ter que implicar-se em um processo de mudança e que, também, logo se “resolve” pela via medicamentosa. Quando se nomeia um sintoma, aplicando-lhe um rótulo, algo “para chamar de seu”, retira dele a possibilidade de se perguntar as razões daquilo que o afeta. Pois, se é tratado como uma doença, há um diagnóstico médico, um número de CID (Código Internacional de Doença) uma receita e até mesmo um atestado, além de haver remédio que o cure.
Será que o medicamento transforma o sujeito ou o transforma em dependente deste remédio? Será que se retirado o remédio o sujeito ficará bem? A fala de muitos de nossos pacientes levam na direção de que sem o remédio, tudo volta como antes. Isso acontece porque não é introduzindo drogas para regular o fluxo dos neurotransmissores que o sujeito poderá sair, por exemplo, de uma depressão, mas é uma mudança da posição que ele ocupa na vida e a forma como se implica em suas escolhas. Trata-se, portanto, de uma mudança subjetiva. Os medicamentos têm seu papel importante para alguns casos e momentos do tratamento, mas não são a resposta para aquilo que é gerador do sofrer de um sujeito, essa resposta só ele pode vir a saber, pois tal resposta não vem “manipulada” em miligramas, mas pode ser “manipulada” pelo sujeito a partir da fala e da sua construção em uma análise/terapia (psicanálise).
*Psicólogo clínico atuante a partir da psicanálise, educador e pesquisador da UFSJ. Colaborador do Jornal Folha de Varginha e Blog do Madeira.
Texto originalmente publicado no Jornal Folha de Varginha e também disponível em:
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