Janilton Gabriel de Souza*
Intitular este artigo com um verbo que define parece suar belo aos olhos de quem desejar aqui encontrar um significado, principalmente um que corresponda as falácias que ouvimos por aí como caracterização de uma mãe: “mãe de verdade é…”, neste mês chovem slogans que vem tentar fazer tal definição.
Entre os mais absurdos que se ouve, um vem revestido de força intelectual, que toda mulher vem preparada para “ser mãe”. Pode ser que no quesito anatômico e fisiológico a mulher esteja apta a gerar sim, um filho, todavia, ela pode gerá-lo e não ser mãe. Assim como acontece com diversos animais na vida selvagem que geram seus filhotes e os abandona. Tanto que pensando desta forma, fica fácil compreender porque muitas mulheres abandonam seus filhos, notícia que aterroriza muitas pessoas. Na verdade mãe não se é, não se nasce pronta ou porta um gene que torna umas mães e outras não. Ser mãe não é um processo natural. Pelo contrário, a mãe nasce antes ou durante a gestação do filho, é quando a mulher começa a apostar que dentro de seu útero existe muito mais que uma cria, há um filho idealizado por ela e seu pai. Há um futuro marcado no ideal dos pais, e eis que como falamos na psicanalise o filho, a priori, é um mero pedaço de carne que aos poucos ganha um lugar, se transforma em sujeito. O papel ou função que a mãe exerce na vida de um bebê é de extrema importância, pois é ela que através de um verdadeiro banho de linguagem vai nomeando o corpo da criança, fazendo com que este deixe de ser um simples “pedaço de carne” para se transformar em um sujeito marcado no desejo do outro. Estudos demonstram que quando a criança já no ventre da mulher não é marcada pelo desejo e investimento dela, ou dizendo de outra forma quando a mulher não aposta que ali há um sujeito, mesmo que idealizado por ela, as chances de vir a nascer uma criança com autismo são grandes. Tal idealização já começa no nome próprio, ele carreia toda uma expectativa dos pais e vem seguida de uma história transcrita no sobrenome.
Desta forma ser mãe é de longe algo natural: Há um grande investimento que a mulher precisa fazer para tornar-se, assim como o é para o pai. E o terrível de tudo é que o danado do bebê não vem com guia de instruções, por isso, como a vovó já nos dizia ser mãe dá trabalho e muito!
*Psicólogo clínico atuante a partir da psicanálise, educador e pesquisador da UFSJ. Colaborador do Jornal Folha de Varginha e Blog do Madeira.
Texto originalmente publicado no Jornal Folha de Varginha e também disponível em:
Sem Comentários