Janilton Gabriel de Souza*
Terminou no dia 25 de outubro, o polemico leilão da virgindade da jovem de 20 anos, Catarina Migliorini, o leilão ocorreu em um quadro de um programa televisivo australiano “Virgins Wanted” (procuram-se virgens) e que conjuntamente gravou o “mezzo” documentário. Os lances foram dados pela internet e com o fechamento do leilão, o valor final foi de um milhão e meio de reais, aproximadamente. O ganhador recebe o dote em até 10 dias depois do fim do leilão e sabe-se que será em um avião o ato sexual, no qual o ganhador terá uma hora junto com a garota.
A primeira questão que muitos levantam é em torno da conduta da garota, enquanto escrevia esse artigo achei inclusive uma reportagem, que entrevistaram a mãe dela, questionando-a do que ela achava da ideia da filha. Porém, acredito que mais intrigante nessa história não é a conduta da garota, mas a grande valorização da virgindade. Às vezes, um assunto desse, ganha tamanha dimensão na mídia, mas ele é apenas um recorte do que acontece fora dos holofotes. Não são poucos os prostíbulos que leiloam garotas virgens. Essa valorização da virgindade, não é nova, alguns vão dizer que é até velha, principalmente para os “nossos tempos”.
Se voltarmos na história poderemos perceber essa valorização ecoada nos mais diversos discursos, principalmente da burguesia (garantia de procedência e que a moça não portava um filho bastardo) e da igreja (sinal de pureza e santidade – ultra valorizada). Todavia, é importante questionar por que essa valorização da virgindade ainda persiste? Listemos algumas razões: há a ilusão, por parte de homens, de que com uma virgem não existiriam outros com quem se disputaria a preferência da cópula ou teria a primazia e prioridade sobre sua iniciação reprodutiva; Para uma virgem, por mais que o homem seja mediano, essa relação sexual ficará registrada como experiência inesquecível (outra fantasia, pois conforme ela experimenta outros pode muito bem passar a odiar a mediocridade do primeiro); Outra razão é que a virgem sendo desprovida de experiência, não possuiria um saber, o que gera a ilusão no homem que poderá ensiná-la, fazendo com que acredite que saiba algo sobre o sexo, o que pode não ser verdade.
Entretanto, o que leva os homens a buscarem, por exemplo, virgens prostitutas em leilões nas casas de prostituição Brasil a fora? Isso é explicado pelo fato de que, muitos homens vivem em uma contradição no que tange ao tipo de mulher: desejam a puta, mas não conseguem amá-la e, a virgem, por sua vez, a amam sem limites, porém não conseguem desejá-la sexualmente. A virgem lembraria sua mãe, impossível de ser tocada, portanto restaria apenas o amor puro e virginal. É interessante que uma virgem puta desperta a fantasia de tais homens: a de juntar a detentora de um saber sobre a “pureza” e a detentora de um saber sobre o “gozo”, dito de outra forma, a amada e a desejada. Assim, ele poderia amar um corpo não tocado e não ter que sujá-lo com seu desejo. O preço da realização dessa fantasia? Para alguns, milhares de reais, para o japonês ganhador do leilão? Um milhão e meio de reais e mais uma série de restrições, como por exemplo, não poder beijá-la.
*Psicólogo clínico atuante a partir da psicanálise, educador e pesquisador da UFSJ. Colaborador do Jornal Folha de Varginha e Blog do Madeira.
Texto originalmente publicado no Jornal Folha de Varginha e também disponível em:
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