Janilton Gabriel de Souza*
Último artigo falamos dos sentidos possíveis para se dar a vida. Importante dizer que o mês de janeiro tem um significado muito importante: do latim Ianuarius, homenagem a Jano, deus do começo na mitologia romana, que tinha duas faces, uma olhando para trás, o passado e outra olhando para a frente, o futuro. Não é atoa que janeiro é o primeiro mês do nosso calendário, pois é nessa época de início, que muitos fazem planos tentando estabelecer alguns sentidos e/ou motivos de satisfação. E quando o sujeito paralisa frente aos desafios da vida? E quando este nada deseja? Alguns dirão tratar-se de depressão, afinal o termo é largamente utilizado no senso comum para significar os mais diversos estados de tristeza. Todavia, nomear o problema psíquico é algo que não o resolve, se fosse assim bastava um dicionário ou uma consulta no site de buscas. Pensar-se-á o que é depressão a começar pelos desvios do termo.
Nossa sociedade conjuga o imperativo “ser feliz, sempre”. O efeito disso é a tentativa de suprimir os lutos, a tristeza e ou angustia, não atoa os “remédios da alegria” são as drogas mais vendidas, tendo sua ascensão no século XX com o surgimento dos medicamentos antidepressivos. Uma constatação: Depois da criação desses psicofármacos, aumentou-se e muito o número de pessoas diagnosticadas com a depressão. Com isso estou querendo dizer, que nem sempre estamos lidando com uma depressão. Precisamos considerar algumas questões: É natural uma pessoa que perdeu um ente querido, por exemplo, sofra e passe um período de luto, o que não tem haver necessariamente com depressão, mas de uma tristeza humanamente justificável, uma tristeza em decorrência de contingências do risco que viver implica. Alias, a tristeza é recorrente ao humano. Depressão designa um jeito do sujeito se colocar na vida, desta maneira, o deprimido trás uma profunda inibição e um sentimento de ser incapaz de lutar pela existência. Depressão tida como a “dor da alma”, nos corredores da psiquiatria diz-se de um conjunto de sintomas, como: perda de apetite e emagrecimento, perturbações do sono, fadiga, agitação ou lentidão, falta de interesse, sentimentos de autoacusação ou culpa, falta de concentração, ideias recorrentes de suicídio.
Quando se destaca a tônica dos medicamentos, não está excluindo sua importância no tratamento, pois admite-se que em determinadas oportunidades ele é um grande aliado. Mas seu uso exclusivo sem um trabalho terapêutico ou psicanalítico se mostra ineficaz, constatação que se percebe na volta do quadro e constantes retornos dos pacientes aos consultórios. Outra questão a ser considerada são duas ressalvas quanto à causa física, que ocorre devido à alteração do hormônio t3 e t4, que leva o quadro de hipotireoidismo. Outra também relacionada com os hormônios é o período de menopausa na mulher, quando em função da queda drástica destes pode culminar com o desencadeamento da depressão. Para ambos os casos, o tratamento é medicamentoso. Deve-se considerar também, como causas orgânicas, a queda da taxa de íons de lítio na córtex cerebral que faz reduzir a sua atividade eletroencefálica, muito embora isso já possa ser indício de uma somatização psiquica.
Excluídas as possibilidades físicas entramos no universo psíquico, subjetivo e singular e neste campo, as estatísticas que informam o alto número de depressivos em nada colaboram, pois dizem de uma generalidade, que afasta das idiossincrasias humanas. Se os números surpreendem, a psicanálise informa-nos da particularidade de cada um no que diz respeito ao sofrimento, impossibilitando até de falar de depressão (categoria geral). Embora admita-se a intervenção psicofarmacológica não se pode restringir a ela, se faz necessário o tratamento com um psicólogo/psicanalista, afinal não se trata de uma questão de apenas alterar o humor, mas de questionar o sujeito da própria causa do sofrimento. Pois não atoa, nós somos sujeitos que foram constituídos pela linguagem, deixamos a condição animalesca por falarmos e nos estruturamos a partir dessa, portanto será somente através deste caminho que poderemos saber, disso que não sabemos que sabemos, ou seja, desse inconsciente, que insiste em produzir seus efeitos. A partir da psicanalise, podemos dizer que nenhuma doença ou sintoma é silencioso, mas pelo contrário, ele fala de alguma coisa deste sujeito.
*Psicólogo clínico atuante a partir da psicanálise, educador e pesquisador da UFSJ. Colaborador do Jornal Folha de Varginha e Blog do Madeira.
Texto originalmente publicado no Jornal Folha de Varginha (não disponível no Blog):
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