Janilton Gabriel de Souza*
Convidaram-me para falar sobre os desafios da educação para uma rede de ensino. A alegria de compartilhar aquilo que descobrimos é fascinante, tanto que topei sem mal correr os olhos na agenda, mas bastaram alguns minutos para refletir: O que diria a um grupo de professores? O que esperavam ouvir de um psicanalista?
Adverti-me daquilo que Lacan nos ensinou, que “toda demanda é acolhida, mas nunca atendida”. O que isso teria a ver com um simples pedido de uma fala? Certamente, atender a demanda seria chegar repleto de saberes debaixo do braço, ensinar os truques para o “sucesso” no fazer da educação. Sendo um psicólogo pouco advertido, poderia incorrer nesse equívoco, mas, como psicanalista, ir por esse caminho seria desconsiderar que o governar, o analisar e o educar são tarefas impossíveis, conforme dizia Freud.
É preciso esclarecer esse impossível. O que há de impossível é o dito “sucesso”, a ação completa, sem faltas. O melhor professor sempre vai ficar em falta, sempre restará algo: um fracasso. Qual a receita para fazer qualquer uma das três atividades? Nenhuma, que seja complemente infalível. Jamais haverá uma que se aplique a todas as pessoas. Em alguns textos técnicos da Psicanálise, Freud sempre preferiu dizer “recomendações”, pois julgava que, para cada novo paciente, a técnica teria que ser adaptada e ela seria feita, também, considerando o estilo de cada psicanalista.
Algumas “recomendações” podem ser interessantes no fazer de um professor. Entretanto, a aplicação cega, desconsiderando cada sujeito, é o caminho do fracasso. Quando essa cegueira acontece, abrem-se dois caminhos: o da rotulação do sujeito (aluno) e o da queixa sintomática. A queixa pode gerar um empenho para novas soluções, todavia a queixa pela queixa realimenta um ciclo que paralisa o professor. Na Psicanálise, damos à repetição dessa queixa o nome de gozo ou, em outras palavras, a satisfação que se obtém e de que dificilmente se abre mão. Há alguns docentes, no entanto, que conseguem transformam a queixa em uma busca de invenções.
A educação tem um largo desafio, pois o professor ensina para um tempo que não existirá mais. Quando o aluno se “formar”, aquilo que foi ensinado se transformará nesse tempo. Como preparar o aluno para o futuro? Seguramente, isso passa pelo desenvolvimento do espírito crítico e da capacidade de aprender a desaprender. O conhecimento deve servir como uma ferramenta para leitura dos problemas e da capacidade de inventar soluções. Inventar e reinventar, palavras que parecem convidativas, mas que nos coloca em um complexo processo, que requer muita implicação. Fácil? Nem de longe. Possível? Cada docente é chamado a se a ver com o que é possível nessa difícil, mas encantadora, tarefa.
(*) Psicólogo e Psicanalista. Mestre em Psicologia (Psicanálise) pela Universidade Federal de São João Del-Rei, onde também contribuí como pesquisador. Especialista em Teoria Psicanalítica. Colaborador do Jornal Folha de Varginha e Blog do Madeira. Editor do site Janilton Psicólogo (www.janiltonpsicologo.com.br). Coordenador do Núcleo de Pesquisas e Estudos em Psicanálise, Interfaces. Contato para atendimentos psicológicos (35) 3212 6663 / 99993 6663